quarta-feira, 31 de agosto de 2011

35º Capítulo - Aniversário (Parte II)



(David)




Ai como estava precisando de cometer mais umas valentes horas de sono, que me fizesse acalmar os ânimos e me deixasse como novo depois de mais um dia de treinos. Mas este não vinha. Embora o cansaço estivesse já alastrado por todos os recantos do meu corpo, este parecia ser destruído a cada minuto que passava.
Os treinos têm sido cada vez mais pesados e isso tem se ressentido nos meus músculos que pareciam permanecer tensos e incomodados com todo o esforço que exerciam. Não que já não estivesse habituado mas, talvez seja, pelas horas que deixei por dormir estes dias.
Amanhã a minha Ná fazia anos e, além de o saber, teria que o ocultar, uma vez que esta pedira silêncio a Rita. Ela não gostava que se soubesse pois para ela, era apenas mais um dia de consumismo exagerado. Porem, Rita não hesitou em nos dizer e preparávamo-nos para fazer uma pequena festa, que desde o inicio, se combinara ser em casa de Rúben.
As minhas pálpebras já cansadas, deixaram-se embalar pela escuridão em que o quarto permanecia já á algumas horas e acabei por adormecer com uma doce e alegre canção brasileira no pensamento.

Assim que despertei, as minhas pupilas contraíram-se de imediato ao constatar a luz natural de mais um dia. O dia da minha bebé. Queria desarmar-me e desejar-lhe os parabéns pelos seus vinte anos. Queria estar com ela, queria abraça-la, beija-la, poder dizer que este seria o primeiro de muitos aniversários que iríamos passar juntos, queria e desejava vê-la. Mas não dava. Teria de fingir, ocultar e deixar que a vontade não vencesse tudo e me levasse a jogar nos seus braços. Contudo, não resisti em mandar-lhe uma mensagem ao qual ela não respondeu mas, retribuiu com uma chamada.
Meu coração disparou assim que ouvi a sua voz, e a vontade de ir ter com ela voltara de imediato. Ele próprio, foi mingando que nem uma vela ardendo, ao solicitar a tristeza na sua voz por inventar uma desculpa que me desse tempo para ajudar nos preparativos, para tratar da sua prenda, impedindo-me de estar com ela.
Convidei-a para jantar comigo a fim de, sem ela sabe, levá ela para casa do Rúben e assim curtir do seu aniversário.
Tinha tanta saudade, desde quinta-feira que não estou com ela, são três dias sem provar daqueles doces beijos que ela tanto me enchia e me preenchia o coração. Quanto mais pensava, mais a saudade batia forte.

Ontem, quando o sol ainda raiava no céu, fiquei de ir buscar á estação de comboios, aquilo que seria uma surpresa boa para ela. O Sr. José, seu pai.
Além de ter sido eu, com a ajuda da Rita, a contacta-lo, e a ir busca-lo, este ficou dormindo na casa do Rúben para não correr riscos que a minha donzela o visse antes do previsto. Já o havia conhecido antes, embora de forma rápida e num momento pouco agradável que foi o funeral da sua querida esposa. Ontem tive oportunidade de me apresentar decentemente e ficar a conhecer melhor aquele que seria, talvez, o meu futuro sogro. Mas, além disso, apresentei-me como um bom amigo dela pois havíamos combinado que ainda seria cedo admitir perante toda a gente que namorávamos.

Depois de um banho tomado, vestir uma roupa, e claro, arranjar os caracóis, desci o prédio ainda com a carteira na mão e a chaves do carro na outra, que tilintavam a cada escada que “saltava” numas passadas mais rápidas.
Cheguei rapidamente a casa do Rúben e, depois de este me abrir o portão, meti o carro dentro da sua garagem.

(Rúben)

Assim que acabei de me vestir segui em direcção à cozinha onde me deparei com o pai da Ana acabando de falar com ela.

- Bom dia Sr. José. – Além de não o conhecer bem, era o pai da minha querida amiga Ana, e isso bastava para o acolher bem na minha casa.

- Bom dia Rúben Amorim.

- Então? Deixe o Amorim de lado. Trate-me apenas por Rúben.

- Desculpa rapaz, é o hábito. – Sorriu.

- Desculpe ‘tar a perguntar mas ‘tava a falar com a Ana?

- Estava. Tinha que lhe dar os parabéns, não é verdade?

- Pois, claro. Mas não lhe disse que estava cá pois não?

- Claro que não. O que é surpresa, é surpresa.

Sorri. – Acho que ela ainda nos vai mandar um raspanete dos bons.

Ele gargalhou. – A minha filha é muito teimosa, não gosta nada que gastem dinheiro com ela nestas coisas. Nem sei como ela vos contou que fazia anos.

- Ah pois. Isso é o que você ainda não sabe. Ela não contou. Por isso acho que ela vai puxar as orelhas á Rita.

- Ai foi a Ritinha que vos contou? E ela não sabe que vocês sabem?

- Isso mesmo. – Confirmei.

- Ela que se prepare. – Gargalhou de novo.

- Não se preocupe que a sua filha não vai ser acusada de nenhum crime porque eu não deixo que ela desfaça a Ritinha. – Sorri ao pensar nela e fui por o pequeno-almoço na mesa.

- Vocês jovens, são tão transparentes…

- Desculpe, não percebi o que quis dizer…. – Voltei a sentar-me na mesa junto dele.

- Sabes Rúben, basta ver o brilho nos teus olhos para ver que gostas dela.

- Da sua filha? Claro que gosto. Criamos uma grande amizade. A sua filha é cinco estrelas.

Ele sorriu, de cabeça baixa enquanto mexia o café. – Não Rúben, não estava a falar da minha filha.

- Então Sr. José? – Perguntei confuso.

- A Ritinha rapaz, tu gostas dela não gostas?

Esta pergunta apanhou-me despercebido e confesso que o sangue que me preenchia as veias, aglomerou-se junto das minhas maças do rosto, deixando-as rosadas.

- Pois gosto Sr. José. Gosto mesmo!

- Logo via. Espero que tenhas sorte, ela não é muito fácil.

- Não se preocupe. Porque também já não tenho que me preocupar com isso. – Sorri.

- Então?

- Nós namoramos… - Confessei.

- Parabéns rapaz! Ela é uma boa rapariga. Não a deixes fugir.

- Farei os possíveis para isso não acontecer.

Assim que acabamos de comer, arrumamos os dois a cozinha e ficamos a conversar.

- Bem, o David vem cá almoçar hoje. Você importasse?

- Eu não tenho que me importar rapaz. A casa é tua.

- Pois, mas você poderia não achar graça a isso.

- Não me importo nada Rúben. Como já disse a casa é tua, tu convidas quem queres, e eu não tenho nada contra o David.

- Pronto, não pergunto mais nada. – Gargalhei.

***

- Então mano, tudo bem? – Dei-lhe um passa bem e uma palmada nas costas.

- Tudo manz. E com você?

- Também, entra.

- Bom dia Sr. José. – Cumprimentou-o também com um aperto de mão e começou assim um diálogo amigável.

- Bom dia David. Estás bom rapaz?

- Estou sim e você?

- Também, vai se andando como se pode.

- É verdade…

Estava-mos os três na conversa quando me lembro de desafia-los para uma partidinha de Playstation. David tal como o Sr. José aceitaram e, para meu espanto e do David, ele acabou por ganhar.
Decidimos comprar alguma coisa para comer em vez de irmos fazer e acabei por ir buscar, a pé, a um restaurante aqui ao lado, um arroz de pato delicioso.
Demorei pouco mais de quinze minutos e quando cheguei, vi David e Sr. José a acabar de por a mesa.

- Cá está um arroz de pato prontinho a comer!

- Ai que isto me vai saber tão bem manz.

- Oh Sr. José, acho melhor você tirar já, senão quando der por ela, aquele cara de cu já comeu tudo.

- Hey, não liga p’ra ele não. Tem que ter é cuidado com esse daí. Ele sim devora tudo que nem um leão.

- Preocupem-se vocês, que eu também não como pouco.

Ri-mos os três e começamos a refeição. A conversa foi predominantemente futebol mas já quando estávamos a acabar, o assunto da festa voltou.

- Então como é que vocês estão a pensar traze-la cá sem que ela desconfie?

- A Rita ficou de passar o dia com ela, e pelo que me disse á pouco, elas devem ir ao cinema e assim. Coisas de mulheres. – Ri-mos e David continuou.

- E mais logo, eu vou pegá ela lá em casa para jantar fora. – Disse David um pouco a medo que ele desconfiasse da sua cumplicidade para com a filha. – E depois digo que tenho que vir cá casa pró Rúben me entregá uma coisa.

- Bem pensado, sim senhor…. Mas David, vais jantar só com ela? – Perguntou num tom “desafiador”.

- Sim, vou. – Disse a medo.

- Hum, ok então. – Tentou não se rir, e foi aí que vi que o Sr. José percebia mais do que o que dizia. Tal como percebeu que havia algo entre mim e a Rita.

***

- Bem, tenho que ir buscar o presente da Ana. – Disse David antes de começarmos a passar as coisas para a sala de bilhar. – Eu venho já dar uma ajudada, ‘tá bom manz?

- Vai lá, eu faço isto rapidinho também. A decoração é mais quando a Andreia chegar.

- Ok manz. Até logo… Até logo Sr. José.

- Até logo rapaz…

***

- Desculpa Rúben, mas elas encontraram-me no Colombo e só pude vir agora. – Confessava a Andreia.

- Eu já te ia ligar pá, mas tem lá calma. Já está quase tudo feito. Nós os três desenrascamo-nos.

- Nós os três?

- Sim, eu o David, e o Pai da Ana.

- Oh, desculpe. Nem o vi. – Desculpou-se assim que viu o pai da Ana. – Andreia, prazer. – Disse ao o cumprimentar com dois beijinhos.

- José, e o prazer é todo meu.

- Bem Rúben, passei agora pelo David à entrada, ele ia buscar a Ana?

-Yup. Por isso ainda temos tempo para tudo.

***

(Ana)

Cada escada que descia, cada balanço que dava para a frente, trazia consigo a saudade e a vontade de o abraçar fortemente. De me deixar ficar nos seus braços uma eternidade e não o largar nunca mais.
Foi já quando o avistei, encostado ao seu Audi Q7, com o seu sorriso tão característico e delicioso, envergando umas calças de ganga escuras e uma camisola branca, que parei e fiquei a olhar para aquilo que me deixava tão, mas tão feliz. Assim que me viu, veio ao meu encontro a passadas largas e eu, sem lhe dar tempo de respirar, envolvi-o num abraço longo.

- Oh meu amô, tou morrendo de saudades suas!

- Eu também Davi’… Eu também. – Deixei acalmar o meu coração.

- Vamô p’ra dentro do carro, ‘tamô mais a vontade.

Assim que entrei, enganchei-me nele que nem uma miúda pequenina que só quer os miminhos de quem lhe é tão querido. Olhei-o nos olhos e beijei-o. Um beijo que só veio adocicar o meu coração, e o preencheu de sentimento que sabia ser forte e mutuo. Queria conseguir acalmar o compasso a que o meu coração palpitava depois de um beijo cheio de saudade, um beijo intenso e duradouro.

- Amo-te! – Proferi ainda extasiada.

- Eu também pequenina. – Vi os seus olhos brilharem. - Vamô nessa?

- Vamô moleque. – Imitei-o e voltei a beija-lo.

***

- Ai Davi’, é lindo!

- Cê gosta?

- Adoro, meu amor!

- Então venha, vamô jantar! – Beijou-me a bochecha, enquanto permanecia especada a olhar para a paisagem que abrangiam o mar e onde, num lugar mais recatado, se podia verificar uma mesa para duas pessoas á luz das pequenas velas que rodeavam a linha que separava o areal, da madeira escura e usada que nos encaminhava para o restaurante.

- Porque é que te deste ao trabalho de fazer isto? – Perguntei indignada, pensando que alguma vez poderia desconfiar ser o meu aniversário.

- Tinha de compensar você por não lhe ter dado atenção estes dias, meu anjo. – Esclareceu-me com um sorriso nos lábios, acabando com quaisquer dúvidas existentes na minha cabeça.

- Não precisavas amor…

- Precisava sim!

- Assim vou ficar mal habituada.

- Se cê ficá, não faz mal não. Cê também me deixa mau’ habituado com tanto mimo.

- Ai não gostas é? – Fiz cara de mazinha.

- Eu não gosto, eu amo!

- Tonto…

- Cê vai querer jantar o quê?

- Escolhe tu amor…

- Bacalhau com natas, pode sé?

- Pode. – Sorri voltando a observar o horizonte que se exibia escuro.

David chamou o empregado que permanecia só a nosso dispor e fez com que nos servisse o jantar. O restaurante era também magnífico, este conferia-nos uma leve música de fundo, que tornava o momento ainda mais agradável e romântico.
O meu pensamento voava até o outro lado da mesa, onde permanecia David, com aquele tão seu característico sorriso que me transmitia todo o tipo de felicidade e familiaridade. O seu olhar fazia-me teletransportar para um mundo só nosso, um mundo onde via que bastava nós querermos, bastava jogarmos a bola p’ra frente para podermos atingir a baliza da felicidade. Juntos! Estava envolvida na minha própria realidade, na minha própria felicidade e isso tornava tudo mais confortável, mais emocionante e um tanto excitante. Queria poder alcançar tudo do lado dele, nem que o tivesse de seguir até aos derradeiros e conflituosos confins do mundo, e assim poder transformar um pedaço de sonho, numa simples e feliz realidade.

- David… - Invoquei-o durante o jantar, fazendo com que ele me conferisse mais um pedaço da sua atenção.

- Sim, meu anjo.

- Tens noção do quão me deixas feliz e orgulhosa?

- Eu… - Reparei que não se encontrava a espera destas minhas palavras, o que o fez ficar admirado e um tanto sem palavras para me responder.

- És sempre tão querido, tão sincero, tão romântico… És sempre tão humano David. És sempre tão tu! E isso deixa-me visivelmente orgulhosa de ti. Deixa-me extremamente feliz por saber que ainda há pessoas assim e que tive a sorte de te poder encontrar na minha vida. Eu! Que sou apenas uma rapariga igual a tantas outras desconhecidas.

- Vem cá, vem! – Chamou-me emocionalmente de braços abertos e pronto a ceder-me o seu colo para que o pudesse abraçar. – Eu sou apenas eu, no meu estado normal. E você, você é muito mais do que pensa. Muito mais do que uma igual a tantas outras… Você é a mulher que eu amo! A mulhé com quem eu quero ficá! – Beijou-me assim que verificou não estar ninguém.

- Ai Davi’, parece que estou a viver um sonho!

- Um sonho bem real garota.

- Sim, bem real. – Sorri que nem uma “boba”.

***

- Me deixa encher você de beijos? – Sussurrava-me de queixo pousado no meu ombro, enquanto perscrutávamos a bela paisagem que se encontrava à nossa frente, embalados pelo compasso uníssono do bater dos nossos corações, e pela brisa refrescantemente inebriante que cada onda arrebatada trazia consigo ao embater contra os rochedos pequenos e brilhantes numa noite verdadeiramente “luminosa”.

- Deixo. Claro que deixo! – Sussurrei também, bem junto dos seus lábios, onde a respiração quente de David me embatia no canto da boca, provocando em mim uma vontade imensa de o beijar.

Os seus beijos repenicados no meu pescoço eram constantes até que, um beijo mais calmo e húmido envolveu a minha bochecha esquerda deixando-a assim à mercê da brisa envolvente, para que esta me provocasse uma sensação de arrefecimento local.
Outro beijo no canto da boca, fez com que o meu corpo se ressentisse e estremecesse de uma ponta à outra, provocando assim a vasoconstrição dos meus pelos.
Não resisti e acabei mesmo por me virar, amarrando-me na cintura delicadamente, fez-me deitar na areia por baixo dele, para de seguida explorar a minha boca com um beijo apaixonado, onde ambas as línguas balançavam por recantos já passados, e tão cedo nunca esquecidos… Pelo menos, pensávamos nós.

Espero que gostem. Assim que poder posto a terceira parte do capítulo.
Estou um bocadinho triste pelos muito poucos comentários  que recebi no capitulo anterior, pois dá a entender que não estão  a gostar. Boa ou má, deixem a vossa opinião para que possa melhorar.
Beijinhos, Ana Sousa 

sábado, 27 de agosto de 2011

35º Capítulo - Aniversário (Parte I)


Estava mesmo numa de deixar-me enroscada nos lençóis floridos que preenchiam a minha cama a uma temperatura quente e confortável fazendo-me relaxar, e deixar-me na dormência a que o meu corpo tanto me exigia ficar no meio da escuridão que o quarto me conferia pelos estores fechados, impedindo assim que a luz incandescente da manhã me ferisse os olhos.
Quando estava prestes a voltar a adormecer, as ondas sonoras vindas directamente das colunas do meu telemóvel, chegavam aos meus ouvidos na música «3 doors down – when you’re young» que, pela manhã, quase se tornava impossível de ouvir. Era uma chamada, e atendi de imediato sem ver quem era.

- Estou? – Falei ainda de olhos fechados.

- Olá minha filha!

- Pai! Você está bom? – A saudade que tinha de falar com ele despoletara.

- Estou meu amor, e tu?

- Estou muito bem. – Sorri ao telefone ao lembrar-me de como estava com David.

- Hum, isso cheira-me a coisa…

- Não diga asneiras pai! – Ri. – Sempre com coisas na cabeça.

- Pronto, está bem… Mas sabes uma coisa?

- O quê?

- Parabéns!

- Oh… Obrigado! – Sorria.

- Meu amor, vou ter que desligar.

- Não faz mal. Beijinho grande!

- Outro, minha querida.

Assim que desliguei o telemóvel deixei-me cair de novo sobre a cama e sorri. Foi bom falar logo de manhã com o meu pai. Estes pensamentos rondavam a minha cabeça, o que despoletou outros menos agradáveis. Pois. Hoje era Domingo, vinte e sete de Fevereiro, o meu aniversário, o meu 20º aniversário e ia passa-lo, pela primeira vez, sem a minha mãe. Memórias e mais memórias dos momentos que passei com ela assolaram a minha alma e me trouxeram a tristeza de não a ter mais comigo. De não lhe poder tocar mais vez nenhuma. De não poder dizer que a amo de novo. Uma lágrima que tentava prender e não a deixar saltar, em conjunto com os meus sentimentos, inchou e acabou por ser libertada por um dos meus olhos e um choro inaudível fez-se notar cada vez mais. Tinha saudades, muitas saudades dela.
Ouvi a bater á porta e limpei rapidamente as lágrimas.

- Entra.

- Parabéns meu amor! – Deu-me um beijinho e abraçou-me.

- Obrigada minha linda!

- Estiveste a chorar?

- Não estive nada…

- Ana! Olha-me para esses olhos! Estão vermelhos. Vá, conta-me que se passa?

- O meu pai ligou-me.

- E que tem?

- Tem que fiquei com saudades da minha mãe!

- Oh meu amor, vem cá! – Abraçou-me. – Estou aqui.

- Vai ser o meu primeiro aniversário sem ela. – Sussurrei num soluço triste no meio daquele abraço reconfortante que Rita me dava.

- Não fiques assim. – Apertou-me ainda mais e por fim olhou-me nos olhos. - Não te posso dizer que a saudade diminua, porque é mentira. Mas meu amor, vai se tornar muito mais fácil suportar esse vazio. Vais ver…

- Obrigado por estares aqui comigo, obrigado! – Voltei a abraça-la com medo de perder mais alguém tão importante para mim.

- Vá vá, toca a vestir algo bem bonitão que hoje, um dia cheio de sol, vamos tomar o pequeno-almoço ao café. – Arrancava-me da cama com palmadinhas no rabo.

- Ouve lá, eu sei que o meu rabo é melhor que o do Rúben, mas vá, sempre podes aproveitar o dele. Por isso, deixa o meu, sua porca! – Gozei mais animada.

- Olha-me esta! Para ti: duas coisa. Primeiro o Rabo do meu homem é bem bom sim senhor! E segundo, tu gostas! – Enumerava com aquela carinha fingidamente zangada, de braço colado á cintura e dedo no ar.

- Parva! Para quem quer que me despache estás muito linda assim de pijama, sim senhor.

Olhou para si de alto a baixo. - Pois, fui! – Saiu da porta e sorri por ver a minha Tááh na sua perfeita pessoa. Sempre animada e dona dos sorrisos do mundo.

Calcei os chinelos de quarto que havia comprado à pouco tempo e que, por sua vez, se encontravam à mesinha de cabeceira. Fui até à janela verificar se fazia mesmo sol, pois a fins de Fevereiro não é nada normal, o que acabei por confirmar. Estava realmente um dia bonito. Vi as horas no relógio de pulso da swatch que fora oferecido pelos meus padrinhos e segui em direcção da casa de banho.
Tomei um duche quentinho que foi saboreado ao máximo, e não sei ao certo quanto tempo demorei porque só sai de lá quando vi a minha pele ficar toda enrugada. Enrolada na toalha de banho abri o meu armário de tirei de lá uma roupa mais fresquinha.
Assim que fiquei pronta, peguei num casaco, para o caso de ficar frio, na minha tiracolo e sai em direcção ao quarto da Rita.




- Então, pronta?

- Pronta! Vamos? – Perguntou ela toda sorrisinhos.

- Sim, claro.


***

- Mas vala, conta-me. Porque essa felicidade toda? – Pedi-lhe enquanto me deliciava com o meu pedido para pequeno-almoço. Uma tosta mista e um café.

- Então? Que tem? Não posso ‘tar feliz agora, queres ver…

- Podes, podes! Isso é o que mais quero para ti. Mas hoje estás… hum, digamos que extremamente feliz.

- A vida corre-me bem. – Sorriu babada e eu gargalhei.

- És é uma pateta de 5ª. – Brinquei.

- Não me importo nada de ser de 5ª, hein?

- Sim, pois. Eu sei. – Ri-me e pus-me de pé.

- Onde vais?

- Pagar, porque?

- É que nem penses! Hoje são os teus anos, eu pago!

 - Rita…

- Xiu! Pago e não se fala mais disso.

- Chata tu.

- Não sei porque mas continuas a amar-me.

- Convencida! – Disse fingindo-me de espantada.

- Realista meu amor, realista.

- És sabichona é o que é. Mas pronto, em falta de melhor.. não é verdade.. – Falei de forma indiferente e a fazer um esforço enorme para não rir. Ela tentou dar-me um “tapa” no rabo mas não deixei”. – Estás mesmo apanhada pelo meu rabo. – Desatei á gargalhada.

- Parva. ‘Tou chateada contigo… - Fez-se de amuada e continuou a falar sem que tivesse pronunciado uma palavra. – Não Ana, não insistas. Não vou falar mais contigo! Já te disse que não. – Passou por mim. – E eu agora vou sair daqui de nariz empinado e fazer de conta que não estás ao meu lado e que eu não estou prestes a mijar-me de riso…

Não aguentei e desmanchei-me numa gargalhada estridente das figuras que ela estava a fazer.

- Amo-te parva! – Rematei e olhei-a.

- Eu sei. – Disse ainda a armar-se em boazona mas rapidamente rasgou a personagem. – Eu também pulguinha. Eu também. – Abraçou-me.


***

Assim que me sentei no sofá vi, ao olhar para o telemóvel, que tinha uma chamada não atendida de Paulo e uma mensagem de David. Decidi ligar primeiro ao Paulo. Ao segundo toque atendeu.

- Alô alô aniversariante!

- Olá Paulinho.

- Parabéns pequenina.

- Obrigada!

- A senhora hoje tem planos?

- Não, vou ficar por casa. Ou até convidar o David a passar cá.

- És sempre a mesma…

- Oh, não comeces também tu.

- Pronto, não digo mais nada. Olha, logo á noite a gente vê-se.

- Ai vê-se?

- Hum… pois. Ah, porque eu devo passar ai mais tarde dar-vos um beijinho.

- Ah ok chefe.

- Olha, a Joana também te está a mandar os parabéns.

- Ohh, agradece-lhe.

- Agradeço. Vá linda, beijinho, manda para a Tááh.

- Mando. Beijinhos.


Mal desliguei gritei á Tááh.

- Oh convencida, o Paulinho mandou-te um beijo.

- Eu senti. – Gargalhou feita parva.


Abri a mensagem de David.

De: David  
Bom dia meu amô.
Amo você muitão.


Como uma simples mensagem me punha radiante. Surgiu em mim uma vontade enorme de passar o meu aniversário com ele, mesmo que este não soubesse. Decidi ligar-lhe.

- Alô?

- Hey, isso são maneiras de dizer “Olá meu amor” para a namorada?

- Desculpa tonta, não vi quem era.

- ‘Tou a brincar amor. Tás bom?

- Estou sim, e você?

- Também, tudo bom. – Imitei-o.

- Você fica maior gracinha me imitando.

- Não gozes. – Sorri.

- Tô falando sério sua boba.

- Boba por ti!

- E também sou bobo por si!

- Amoor…

- Diga.

- Não queres ir dar um passeio hoje?

- Hoje? Pois… meu anjo, não vai dar… Tenho que tratar de uma papelada e ir ao caixa.

Fiquei visivelmente triste. - Não faz mal então. Fica para outro dia. - Mas meu bem, te posso pegar para irmos jantar. Cê alinha?

- Alinho amor. Mas não precisas vir-me buscar. Dizes-me só o sítio e eu apareço.

- Nada disso, eu vou pegá você.

- Vale voltar a insistir?

- Naa…

- Pronto, ganhas-te.

- Pego você as 19:30h, pode ser?

- Pode sim. - A Tááh chamou-me. – Desculpa amor, vou ter que desligar, a Tááh está a chamar por mim.

- Vai lá meu bem. Te amo!

- Eu também tonto.

Desliguei a chamada e fui ver o que queria. Estava na cozinha.

- Diz amor.

- Vamos ao cinema!

- Ai vamos?

- Vamos, e almoçamos por lá e acabamos a tarde a fazer umas comprinhas.

- Mas Rita, aquilo vai ‘tar cheio.

- E que tem? Vais e mais nada.

- Chata.

- Já ouvi isso hoje e continuas a amar-me!

- Rsrsrsrs.


***

E ali estava eu, a caminhar a passadas largas em direcção ao Colombo, para que pudesse-mos chegar a tempo á sessão das 11.
O meu disfarce era totalmente despercebido a Tááh, o que significava ser bom. Pois, eu sei que a culpa era minha por não o ter comigo agora, ou talvez não o fosse, mas agora permanecia na dúvida se o teria comigo caso contasse que era o meu aniversário. Sim, eu sentia falta dele, mesmo que soubesse que iria estar com ele daqui a uns pares de horas, mas hoje, é sem dúvida um dia diferente para mim. Sinto falta da minha querida mãe, daquela mulher deliciosamente feliz e forte que sempre me acolheu nos seus braços quando precisei, ou mesmo quando não precisei. E agora? Agora faço vinte anos e passo-os sem ela, sem o seu abraço reconfortante e o seu beijinho carinhoso. Sem as suas palavras sábias de amiga e mãe atenciosa, sem tudo aquilo que com ela me fazia feliz. E era mais David. Não que não estivesse feliz por passar um serão com a minha melhor amiga, mas David fazia-me falta. Muita falta.

- Que filme queres ver? – Perguntou-me.

- Não sei, escolhe tu!

- Hum, eram dois bilhetes para o Street Dance por favor.

- São 12,40€ por favor.

- Está aqui.

- Obrigado. Bom filme…
 

- Ana! Ana acorda!

- Desculpa, estava na lua…

- Pois, já vi isso…

- Sabes, estava aqui a pensar… Não precisavas de passar o dia todo comigo linda. De certeza que o Rúben queria estar contigo.

- Não te preocupes com o Rúben. E eu quero estar contigo!

- Porque não o chamas para vir ter connosco?

- Hum, porque… porque ele tem que resolver os assuntos com a mãe.

- Outro.

- Ah?

- Nada, esquece. Vamos?

- Sim, vamos. Queres comer qualquer coisa?

- Não, fico-me pela cola. Não devia comer pipocas por causa do estômago. – Lembrei-a.

- Ah pois é. Já me esquecia disso.

- Bem eu peço. Uma média está bem para as duas não? – Perguntei indecisa.

- Está, também vamos almoçar a seguir.

- Okii madame.


***


- Ainda bem que escolhe-te um de dança, senão acho que adormecia. – Ri.

- Mesmo. Olha, vou á casa de banho, vens? – Perguntou assim que foi intervalo.

- Não, fico mesmo por aqui.

- Até já então.

- Até já amor.

Voltei a estar envolvida nos meus pensamentos sobre a pouca luz que ainda incidia e que ia sendo cada vez mais intensa. Deliciava-me com aquela Coca-Cola já meia, envolvida em vários pedaços de gelo que conferia frescura a uma das minhas bebidas preferidas. Foi já quando os meus pensamentos envolveram David, que um rapaz me despertou para a realidade.

- Pipocas? – Perguntou sentando-se no banco onde minutos antes era ocupado pela minha melhor amiga.

- Não obrigado. – Respondi de forma um pouco seca, devido ao seu sorriso de engate.

- Uma rapariga tão bonita aqui sozinha? Impossível…

- É não é? Impossível porque não estou sozinha. – Sorri sarcasticamente.

- Namorado?

- Não.

- Então, será que posso fazer-te companhia? – Juntou-se mais a mim.

- Não fazes o meu género.

- Não me conheces para dizer isso, princesa.

- Não estás a perceber lindo. – Pousei a mão na sua perna e quase consegui imitar um sorriso sexy. – Não fazes o meu género. Nem tu, nem nenhum rapaz… - Vi que Rita estava a chegar perto de nós.

- Tu… - Deixou a fala a meio quando percebeu.

- Amor! Estava a ver que nunca mais voltavas. Estava agora mesmo a dizer a este rapaz que, sabes, não gostamos… de rapazes…

Assim como eu, tentou não se rir. – Desculpa desiludir-te, mas ela é minha. – Rita pôs-me a mão na perna.

Ele sem dizer mais nada e com cara de parvalhão, levantou-se logo e desapareceu a umas fila mais a baixo. Eu e Rita gargalhávamos alto.

- Acho que se foi meter num buraco. Porque desapareceu. – Disse.

- Então que foi isto? – Perguntou-me continuando a rir.

- Então?! Chegou-me aqui com tretinhas de “ai menina bonita aqui sozinha”, ”princesa”… só me faltava esta não?

- Quando vi a pores a mão na perna dele e a tua cara de gozo percebi logo que o rapaz estava a levar uma de “tampão”. – Riu-se de novo.

- Vá vá, acabou. Calha-me cada um hein? - Acabei por rir também.

- O amor, deixa-me descobrir esse teu lado lésbica.. – Pediu-me ela no gozo.

- Oh Deus. – Ri-me.

Depois de vermos o resto do filme fomos almoçar algo simples e assim passar uma tarde de compras no Colombo. Acabamos por encontrar a Neia num dos corredores prontinha a comprar um bikini para o verão.

- Já? Ainda é tão cedo!

- Pois, mas este é lindo, tem que ser meninas. Não resisto. – Ri-me.

- Acho que vou comprar qualquer coisa para o David, que acham?

- Fazes bem mimar o menino de vez em quando. – Dizia a Andreia com um sorriso malandro.

- Ai que perversa, meu Deus!

- Sou nada! Uma santa, uma santa!

- Claro, claro. Vamos ou não?

- Vamos. – Disseram-me elas em uníssono.

Depois de um tempinho á procura do tudo e do nada, acabei por comprar uma camisola/casaco branco da Hurley para ele e algumas coisinhas para mim. Assim que nos despedimos da Andreia, esta segui caminho até sua casa, e nós para a nossa. Estava com intenções de trocar de roupa para ir jantar com David, mas a Tááh fez questão de me chatear a cabeça.

- Não vais nada, estás linda assim.

- Oh Rita, e se ficar mais frio?

- Ai não fica nada. E se ficar ele aquece-te.

- Parva, parva, parva.

- Tu amas-me! Lalala. – Gozava ela.

- Já me posso ir trocar?

- Não. Estás perfeita assim.

- Pronto, está bem. Com essa treta toda também já não dá. – Falei mal vi a mensagem do David a avisar que acabara de chegar.

- Bem, já vou. – Beijei-lhe a testa. – Até logo.

- Até loguinho. Muito loguinho. – Riu-se.

- Não percebi, mas esquece, chata. – Sai para fora mas ainda consegui ouvir ela gritar.

- Tu amas-me!


Será que vai correr bem o jantar?

Espero que gostem... Assim que possível postarei a segunda parte do capitulo.
Deixem as vossas opiniões, beijinho
Ana Sousa 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

34º Capítulo - O descuido




Palavra – Descuido
 
Huum, como eu já conhecia tão bem aquele doce e carinhoso beijo com a qual eu tanto me deliciava. Com a qual me acalmava e me deixava num estado inebriante. Não era um vício, uma necessidade, mas quase.
Abri um sorriso de felicidade ao vê-lo, bem ali na minha frente, com aquele olhar meigo e aqueles caracóis saltitantes que balançavam bem perto da minha cara. Voltei a beija-lo. Um beijo profundo da qual fui arrancada bem devagar pelo sussurrar das palavras de Tááh e um muito pequeno abanar de ombros.

- Amor… - Voltou a chamar ao tentar-me arrancar daquele estado de dormência. – Acorda, o jantar está na mesa.

- Já vai… - Proclamei ainda de olhos fechados e me sentei no sofá.

Ainda antes de me dirigir à cozinha procurei o telemóvel na bolsa e reparei que tinha duas chamadas não atendidas e uma mensagem por ler. Era tudo de David.

De: David
Amô, estou a ficar preocupado :$
Assim que poder me liga vai, quero saber que disse o médico.
Beijo, Te amo : )

- Tááh, vou só fazer uma chamada! – Alteei a voz para que ela ouvisse da cozinha e logo de seguida pus o telemóvel a chamar.

- Oi meu bem!

- Olá amor… - Arrastei a voz por ainda estar a acordar.

- Tão? ‘Tava dormindo?

- ‘Tava... Por isso não atendi as tuas chamadas. Desculpa amor. - Instantaneamente, fiz um trejeito com os lábios receando que ele ficasse chateado.

- Não tem mal não, amor. Mas me diz… que o médico disse p’ra você? – Mesmo não o estando a ver consegui denunciar-lhe a preocupação na voz.

- Nada de mais… Foi só um inicio de gastroenterite. Não te preocupes amor….

- E ele deu algo p’ra cê tomar certo?

- Sim, ele receitou-me uns comprimidos. E disse para ter cuidado com o que como 
por agora…

- E cê vai cumprir à risca viu?

- Mesmo que não cumprisse tu obrigavas-me. – Rimos os dois.

- Pode ter certeza garota. E já agora, cê já jantou?

- Não tonto, a Tááh está à minha espera. Só te liguei para não te preocupares.

- Vai lá então. Mais logo mando uma sms p’ra você.

- Fico à espera. Até logo amor, amo-te! – Despedi-me com um sorriso.

- Também te amo…


- Então quer dizer que no domingo vais ter que ter cuidado com o que comes… - Dizia ela enquanto metia uma garfada de salada à boca depois de lhe ter explicado o que o médico me disse.

- Tááh, é me indiferente. Vai ser um dia como os outros lembras-te? Como qualquer coisa em casa e está feito. Não vou ‘tar com coisas por ser o meu aniversário.

- Oh, também não sejas assim. Pelo menos um jantar, só para fazer a diferença. São os teus 20 anos Ana.

- Mas… Oh Rita, já sabes muito bem como são as pessoas. Só gastam dinheiro e eu não quero isso.

- Oh, está bem. Tu é que sabes. – Deu um final aquela conversa da qual eu ainda não sabia mas que, tão cedo, o “ponto final” não se punha.

***
Passava pouco mais das oito e meia quando nos sentámos no sofá prontas para ligarmos a televisão e deixar-nos relaxar, mas ela não o fez.

- Não tens nada que me queiras contar?

- Para te contar? Que me lembre não…

- Não? – Voltou a perguntar ao erguer a sobrancelha. - Hoje cheguei a casa muito cedo, e não te vi. Nem sinal de dormires em casa…

- Hum, pois. Isso é porque… – Tentei falar quase sem me “engasgar”. Quase.

- Isso é porque… - Repetiu o que disse à espera que acabasse a frase.

- Isso é porque, realmente, não dormi em casa…

- Não!! Ana, a sério. Tu e o David… vocês, bem…?

- Não parva, ainda não… Apenas fiquei em casa dele…

- Aii aii, “ainda não”… Isso cheira-me a qualquer coisa…

- Não sei do que falas… - Fiz-me de despercebida.

- Oh, vala! Até parece que não te conheço. – Riu-se.

- Pronto, está bem. É verdade, ouve bastante intimidade mas não aconteceu nada.

- Ana, estás mesmo atraída por ele. Tirando a parte do apaixonado. – Brindou-me com um sorriso.

- Pois, pois estou. Tu conheces-me, sabes que não costumo ter esta atracção por ninguém mas porra, nem uma semana temos e eu não me consigo controlar.

- Uma semana… Ana! Vocês já se conhecem á muito tempo, vocês já se gostavam antes de admitirem. Essa atracção não cresceu numa semana. – Estava de joelhos em cima de sofá e virada para mim. – Concordo que esperes, é cedo sim, mas se acontecer tenho a certeza que não te irás arrepender. E sabes porque? Porque vocês amam-se, os dois! E fazer amor com quem se ama não merece arrependimento. O sexo não é nenhum bicho, e bem, digamos que ambas sabemos o quanto é bom. – Deu-me um sorriso traquina.

- Que parva! Anda cá. – Chamei-a para os meus braços para um abraço calorento. – E tu e o Rúben, estão bem?

- Perfeitamente! – Suspirou.

- Aii amiga, estamos mesmo apanhadas! – Estalei e soltamos uma estridente gargalhada.


***

Hoje não havia ido trabalhar na parte de tarde pois ainda teria que ir até ao Porto em conjunto com a Rita para assistir a mais um jogo do nosso Benfica, e este, que era contra o Porto, dava ainda mais prazer ver.

- Mas vocês as duas vejam se têm cuidado sim? – Dizia Rúben.

- Sim ti-tio! – Brinquei.

- Oh amô, não brinca, quero você inteira. Tenham cuidado, por favó.

- Sim amor, nós vamos ter. Não te preocupes. – Tentei acalma-lo com um beijo.

- Nós temos que ir…

- Pois, mas David… Acho que nos descuidamos. – Torci o lábio ao ver que os jogadores olhavam para nós depois de lhe ter dado um beijo.

- Rapazes, vamos embora! – Chamava o Jorge Jesus.

- David é melhor irmos. – Alertou o Rúben.

- Vai, depois falamos amor. Amo-te. – Disse com receio da sua reacção.

- Eu também te amo.


***

- Então ele vai pedir ao pessoal para não contar nada a ninguém pelo menos para já? – Perguntou-me a Tááh depois de lhe ter contado a sms que David me havia mandado enquanto esperávamos para meter gasolina.

- Parece que sim. Agora só espero que ninguém mais tenha visto.

- Tem calma, foi um descuido. Também não podem esconder para sempre.

- Oh, pois. Mas não me apetece nada ser notícia de revista, para não falar que o meu pai ainda não sabe.

- Vais ter que contar…

- Ainda é cedo…. – Conclui a conversa dispersa a olhar pela janela do carro.

Chegamos cedo à cidade do norte e onde acabamos por aproveitar para dar uma voltinha pelas ruas amontoadas de gente que preenchia alegremente o Porto. As pessoas, aquele sotaque engraçado, os jardins bens arranjados, tudo me fazia lembrar felicidade.
Assim que as horas passavam e depois de já termos alguns sacos na mão, dirigimo-nos, algo preguiçosamente, para o estádio.
Ainda consegui estar com David, pequenos instantes, mas que valem sempre apenas, nem que seja para serenar e reconfortar o nosso pequeno mas valioso órgão que tanto permanece [ou tenta permanecer] intacto para nos conferir mais um momento de vida.
O Estádio…, este estava cheio, e algo confuso, mas conseguia-se distinguir perfeitamente aquela parte do meu eterno Benfica, e a desta cidade linda que era o Porto. Ambos estavam em euforia, ambos saltavam, gritavam, tentando demonstrar assim a sua paixão, muitas vezes incondicional, ao seu clube.

O jogo acabou com o marcador a favorecer os Dragões por 3-1 num jogo justo e limpo, onde à que admitir que a equipa jogou bem. Ambas.
Assim que as pessoas acabavam de sair, tentei estar um pouco com David antes que eles se dirigissem ao hotel mas não havia meio de eles se despacharem.

Espero que gostem do capítulo. E já agora aproveito para dizer que mudei a musica do blog :b
Deixem os vossos comentários. Beijinho
Ana Sousa