quarta-feira, 23 de novembro de 2011

36º Capítulo – Calha assim (Parte II)



Numa maresia de sentimentos malogrados, e num desenrolar de poucos segundos, o seu órgão mais sensível quando se tratava de David, despoletou. Demasiadamente contraído pelas impetuosas preocupações, o seu compasso desenrolou-se do controlado e, de uma forma atroz, levou-o pelos mais rápidos e sucessivos batimentos cardíacos, provocando-lhe uma respiração descontrolada acompanhada por um céu-da-boca desprovido de saliva.
“Estarei a ouvir bem?” – perguntava ao seu interior numa correria tremenda em encontrar uma resposta, a resposta que queria. 

- No hospital? Mas… mas estás bem? – Tentava perceber, por palavras, se realmente David se encontrava minimamente bem.

- Calma… Eu estou bem amô… - Começava a explicar David, para que pudesse acalmar a sua namorada, que sabia ter ficado numa pilha de nervos e preocupações. – Estava p’ra ir apanhar você quando o Javi começou com muita dor no pé. Estava-mos aqui junto do hospital da Luz, e trouxe ele p’ra cá.
 
- Uffa, que alívio. – Demonstrava um certo alívio por saber que David estava bem, o que de facto foi como se lhe tirassem um enorme peso dos ombros. Contudo, não deixou de se mostrar preocupada com o amigo. – Mas e ele, como está? Já sabes alguma coisa?
 
- Ainda não… Ele foi p'ra dentro à pouquinho fazé a pré-triagem. – Explicava David, enquanto Ana se dirigia ao café já por si frequentado, quando tem pouco tempo para almoçar.

- Hum… Assim que souberes diz-me alguma coisa, está bem amor? – Pedia, querendo manter-se informada da situação do amigo. – Agora vou ter que desligar, já tenho pouco tempo p’ra almoçar amor. Até logo!

 
- Sim, eu digo. Não se preocupe! Até logo meu anjo. – Despedia-se. - Amo você.

- Eu também grandalhão!

***

- Dê-me só uma salada de frango, e um Ice tea, bem fresquinho! – Pedia com um sorriso a Jorge. Um rapaz entre os 25-30 anos de idade, e que já trabalhava naquele café à algum tempo.

- Andas desaparecida agora… - Dizia-lhe ele, enquanto lhe abria o Ice Tea e colocava uma porção no copo.

- Sabe como é, tenho tido tempo… - Sorriu-lhe e retirou-se, de maneira a confeccionar o 
que Ana pedira.

Enquanto esperava pela sua salada, que acabaria por matar a fome que o seu pequeno estômago já demonstrava, pensou na maneira como atendeu a chamada de David, daquele jeito imerecido e um pouco frio. Embora a tivesse deixado plantada sem lhe ter dado noticias, ele não era merecedor da sua atitude, muito menos depois de saber que realmente foi por uma boa causa. Isso perturbou-a um pouco, mesmo parecendo estupidez, ao contrário das outras vezes e com outras pessoas, Ana sentia-se no dever de se desculpar perante uma atitude “normal”, mas que para ele, merecia ter sido melhor.

“Amor, desculpa a forma como te atendi. Estava um pouco zangada e tu não merecias que tivesse falado assim.
Beijo, amo-te ♥”

“É por coisas assim que eu amo você. Nossa, tão sincera!
Não tem mal meu bem, eu percebi você. Também amo você garota : )”

“Desculpa meu amor. E obrigado por não teres ficado chateado com a tua pequenina :x
Te amô, molecão :D”

“Cê já está comento?”

“Ainda não, amor… Estou à espera :)
E tu, com isto tudo ainda não deves ter comido nada :S”

“Não se preocupa não, assim que ele saí vamô almoçar qualquer coisa. Vai comê o quê?”

“Salada de frango, nham nham :P”

“Olha, tá metendo nojo agora é? Espera só p’ra vê. Vou comê assim dois pratos cheios de batatas fritas com 4 bifes!!! :C”

“Mas amor, se eu estiver a ver-te a comer isso, eu vou-te roubar!”

“Não rouba não. Vai ficando babando prato :P”

“És mesmo mau, mas vá agora vou-me deliciar com uma saladinha de frango! Até já amor :D”

“Vai sua comilona. Ate já ♥”


Ana havia ficado com o mais belo sorriso na cara que, para além da sua personalidade já tão bem definida o conceder, David o conseguia por cada vez mais bonito. Seja com um olhar, gesto, ou simplesmente palavras longínquas que os mantinha unidos, deixando a saudade passar um pouco ao lado.
O preparado estava a saber-lhe maravilhosamente bem. Embora fosse um cozinhado simples, sabia sempre bem comer algo mais leve e isso não impedia de que fosse bom. Pelo contrário, Ana tinha uma queda por salada de frango, algo pouco típico.
Assim que acabou a sua refeição deu os últimos golos no copo que permanecera com Ice Tea e dirigiu-se ao balcão para pagar a sua despesa. Não sem antes pedir uma sandes de salada de frango para o lanche.

- Obrigado. Até à próxima José. – Despedia-se de forma educada, com um sorriso e levando consigo a saquinha com a sandes, acabando por a por na sua mala.

- Até à próxima! – Concluiu a conversa soltando também um sorriso amigável.

****

David permanecia sentado na cadeira branca, um pouco dura, onde se interligada a mais 4 iguais, estendidas pelo corredor, já tão característico de um hospital ou clínica, esperando que Javi volta-se do consultório.
Este estava deitado na maca enquanto o médico lhe fazia uma observação ao pé e lhe fazia algumas das perguntas que necessitava que fossem respondidas, de maneira a completar e clarear o seu prognóstico.

- Fez exercício físico antes de vir para aqui? – Perguntava o Médico de cabelo praticamente rapado e já com alguma idade, enquanto lhe dava gelo para a mão.

- Tive treino, como tenho todos os dias. – Esclarecia Javi ao médico, enquanto colocava o gelo no sítio onde lhe havia dito.

- Mas este treino foi mais intenso do que os outros, onde fizesse esforço demasiado?

- Não foi mais intenso que nos outros dias, esteve á volta do mesmo… mas antes de acabar o treino fizemos um sprint e coloquei mal o pé. – Explicava enquanto o médico, junto do computador, fazia o relatório. – Não torci o pé, foi só uma dorzinha por ter colocado mal. E agora ao vir embora chutei uma pedra que tinha na estrada e começou-me a doer bastante.

- Bem… pelo que vi é uma contratura. Isto acontece quando é praticado uma sobrecarga de esforço contínuo, onde as fibras acabam por sofrer um encurtamento. Provavelmente, como você já se tinha aleijado no treino, acabou por fazer efeito sobre o tendão. – Embora soubesse bem do que ele estava a falar, e soubesse como era o processo de recuperação, Javi mostrou-se interessado na mesma em saber como seria a partir daí.

- E então, como é que faço nestes dias? Não posso treinar já pois não?

- É assim, vai ter que aplicar, nestas primeiras 72 horas, gelo cerca de 20 minutos. Faça isso três vezes ao dia. Após isso, vai ter que colocar compressas quentes de maneira idêntico às de gelo só que por cerca de cinco dias, ou até desaparecerem os sintomas. Ou seja, vai ter que ficar duas semana sem fazer esforços. – Javi fez uma cara feia e ele riu-se, prosseguindo. – Mas a equipa médica do clube pode ajuda-lo nos alongamentos cuidadosos e de baixa intensidade na musculatura afectada.

- Obrigado Doutor. – Agradecia Javi. – Já agora, podia me dar o relatório para entregar no clube?

- Sim… Já estou a tratar disso… - Disse enquanto mandava imprimir as páginas com o relatório completo, de maneira que os fisioterapeutas e o resto da equipa médica encarnada ficasse a saber da sua situação.

- Obrigado. Até à próxima Doutor. – Despedia-se Javi, já cabisbaixo e coxeando ligeiramente pela dor que lhe provocava ao pé entrar em contacto com o chão.

- Até à próxima.


Javi ia fulo… Duas semanas sem jogar, e só se corresse bem? Que martírio não poder jogar e ter que ficar a ver os jogos, onde se sentia a mesma pressão que em campo, mas sem ter oportunidade de ajudar à vitória. Relembrou mentalmente todos os treinos e os dois jogos que iria perder, e ficou ainda mais desconsolado. Assim que chegou perto do balcão David foi ter com ele e esperou que o amigo acabasse de falar com a funcionária.

- Então? Que cê tem no pé? – Perguntava David sempre preocupado e pronto a ajudar no que quer que fosse.

- Tenho uma contratura muscular. Foda-se, vou ficar 2 semanas sem poder fazer esforços. – Disse chateado, olhando para o pé, que não o deixava andar direito e provocando-lhe dor.

- Normal. Cê não pode correr o risco de ficá pió e ficar ainda mais tempo sem jogar. Vai passar rapidinho, não se preocupa. – Incentivava David, pondo-lhe a mão no ombro e encaminhando-se para o carro, de forma a ir almoçar com Javi.


Javi mantinha o semblante baixo, fechado, mostrando-se visivelmente desanimado perante a situação em que se encontrava. Era sempre um flagelo não poder jogar, não poder fazer aquilo que os fazia sorrir desde pequeninos, aquilo que os fez acreditar nos mais incomputáveis sonhos e esperanças, que tanto ansiavam por cumprir.
Repenicava a massa, enrolando-a lentamente no garfo e levando-a à boca com pouca convicção. Não que não tivesse fome, porque tinha, mas a vontade de comer tornara-se mínima depois da desgostosa notícia.

- Vala meu, cê não pode ficá assim. Duas semanas passa rapidinho. – Tentava, num acto falhado, com que o amigo animasse.

- Mira, vou falhar o jogo contra o Porto, por uma merdita destas! – Dizia já exaltado, por se lembrar do adversário que a equipa tinha para enfrentar, depois de jogar contra o Braga, e que não iria poder estar presente nas quatro linhas.

- Calma. Veja o lado positivo, vai ter a Elena como enfermeira todo o dia! – Tentava David mais uma vez puxar o amigo, e desta vez feito, pois conseguiu sacar-lhe um sorriso.

- A Ana ficou preocupada com você. – Acrescentava, levando uma garfada de massa à bolonhesa à boca, deliciando-se.

- Ela é um anjo de rapariga. Vê que ela não te escape, chico. – Dizia a David, enquanto bebia o copo de água presente do seu lado da mesa.

- Não se preocupe, eu trato bem dela ‘tá bom? Sou um cavalheiro. – Gabava-se ele, ajeitando a camisola em forma formal e ao mesmo tempo cómica, assim que os seus caracóis abanavam parecendo molinhas saltitantes.

- Convencido pá, vou ter que te dar umas aulinhas… - Gozava Javi, esforçando-se para deixar subir o seu astral e voltar a delinear o seu sorriso já tão característico.

- Olha aí garoto. – Reclamava, tentando chegar à cabeça do seu amigo, de forma a dar-lhe uma abanadela.

***

Durante aquela tarde gélida de fim de Fevereiro, Ana ficara atónica. Assim que bateu a porta ficou petrificada, não sabia o que pensar, o que sentir, nem o que haveria de fazer. Percorreu o corredor ainda a pensar no que havia ouvido e seguiu até à sala de brinquedos tentando abandonar aquelas palavras por um bocadinho, e aproveitar o resto que lhe faltava. Mas não deu certo, assim que viu as crianças a brincar, a correr de um lado para o outro, e a cumplicidades entre todos, entre aquela quer era já uma segunda família, deu-lhe uma vontade enorme de chorar, deixar-se crer que não passara de uma brincadeira de mau gosto.

- Vem Ana, vem me ajudar a pintar as unhas! – Beatriz era uma menina de 5 anos, fofinha, com cabelos lisos, escuros com um brilho especial e olhos castanhos. Tinha um ar tão doce que era impossível resistir aos encantos desta pequena criança. – Acho que vou querer um cor-de-rosa… - Pensava, enquanto me empurrava para junto da mesinha redonda com bancos coloridos.

- Um clarinho querida, sim? – Tentava permanecer sorridente, fazendo de tudo para não mostrar o seu desagrado.

- Sim… pintas-me? – Pedia a pequenina, fazendo um pequeno beicinho e esboçando um sorriso, esticando-lhe uma mão, que parecera a Ana tão frágil chegando-lhe a dar pena de tudo aquilo.

- Pinto meu amor, pinto…

Ana pintara-lhe as unhas de um rosa “Carnation”, algo clarinho, mas bonito. Estava perdida em pensamentos enquanto limpava o que, desleixadamente, pigmentou nos dedos da querida Beatriz.

- Fazes-me um daqueles desenhos bonitinhos que fazes sempre?

- Qual queres?

- Hum, não sei! Escolhe tu…

-Huum..., já aprendes-te muito? – Perguntava, querendo saber como estava a correr as 
coisas no infantário.

- Já sei as vogais! E um bocadinho do abecedário… - Mostrava-se contente por saber algo novo. – Mas ainda não o consigo dizer todo direitinho.

- Vais ver que ficas a saber logo logo. – Incentivava. – Agora vai lá brincar, e não estragues as unhas!

***

Ana decidira ir embora a pé, embora sentisse aquele frio que se entranhava na pele assim que se entravam em contacto, precisava de pensar. Sentia-se várias vezes, naquela tarde, a colidir contra uma parede de recordações memoráveis, felizes, mas que provocavam um embate forte, doloroso.
Assim que entrou em casa um arrepio percorreu-lhe a espinha, devido à diferença de temperaturas que se fazia sentir. Pegou num iogurte, e ligou à sua melhor amiga.

- Alô gataa! – Atendia Rita, sempre com o seu bom humor.

- Olá amor. Achas que ainda demoras muito?

- Não. Devo ir já embora, porque? - Questionava, não sendo costume da sua amiga ligar-lhe a estas horas.

- Cheguei agora a casa, e ainda tenho que ir buscar o meu pai a casa do Rúben. Achei que querias ir comigo...

- Claro que quero! Dá-me 15 minutinhos e vou já para aí. - Disse Tááh já entusiasmada.

- Até já querida.

- Até já mi amor!

Sentou-se no sofá com uma vontade enorme de não sair mais de lá, dormir mais de 12 horas e poder ficar embrenhada no cobertor quentinha a ver um belo filme. Começou a fazer zapping, mas como sempre, não dava nada de jeito na televisão.
Assim que ouviu o miar do seu novo amigo, procurou-o logo com o olhar, e assim que o avistou tentou apanha-lo.

- Anda cá tontinho! – Pegava com jeitinho nele e sentava-se de novo no sofá, fazendo-lhe festinhas. – Tens saudadinhas da tua família não tens? – Perguntava-lhe, tentando reconfortar o seu coração, da qual recebeu um simples «miauuf». – Pois, eu sei o que é isso…

- Dizia, lembrando-se da sua querida mãe, que em pouco tempo a deixara, devido a doença que afectava milhões de pessoas, injustamente.

Assim que lhe começou a fazer festinhas na barriga, Ozzie encostou-se junto do seu braço e ronronou, mostrando o seu agrado pelas carícias.

- Ai ai, vais ser cá um preguiçoso! Que nem o David. – Sorriu ao lembrar-se de quanto o David gostava de ficar estatelado no sofá, acariciando-lhe as faces e sem querer fazer mais nada. – Sabes? Acho que continuo com fome… vens comigo, hum?

Assim que Rita entrou em casa, Ana foi ao seu encontro ainda com a sua sandes na mão.

 
- Queres uma amor? – Perguntava, enquanto lhe dava um beijo na face.

- Quero, estou cheia de fome! – Sorriu-lhe e foram as duas para a cozinha. – Quando é o teu pai vai para cima?

- Ele disse-me que o comboio era às 19:16, por isso só vou ter tempo de estar um bocadinho com ele e leva-lo lá. – Ficou triste por saber que não pôde aproveitar o tempo com o pai.

- Já? Eu pensava que ele só ia amanhã…

- Pois, mas ele diz que tem que ir trabalhar, já faltou hoje…

- Bem vamos lá então?

- Isso é que é pressa para ver o teu menino, hum? – Sorriu para ela, vendo a felicidade em 
que Rita se encontrava no seu relacionamento com Ruben. – Sim senhor!

- Cala-te pá! Até parece que não estas aí em pulgas para estares com o teu David’zinho.

- Mas o David vai estar lá?

- Até parece que não sabes que aqueles dois estão sempre juntos.

- Ele não me disse que ia estar lá, por isso duvido que vá. – Dizia enquanto se encaminhavam para a sala e pegou na sua mala. – Olha, vou só pegar num casaco que está frio, espera aí!
 
***

Assim que deixou o pai na estação, pronto a entrar no comboio que o iria levar a casa naquela tarde/noite taciturna, e desviou a rota para comprar a comida do seu Ozzie, rumou com Rita até casa na esperança de que, assim que comessem, o sono se apoderasse dela e a levasse num sono profundo e reconfortante, até bem tarde do dia seguinte, apaziguando-lhe a dor de cabeça. Mas não. O sono não havia vindo e, por isso, a sua permanecia em casa estava-lhe a sufocar a alma, aprizionando-a num estado secante.
Assim que cruzou a porta da casa de banho, abriu a torneira de água fria e refrescou a cara, olhando-se de seguida ao espelho. Não tinha mesmo boa cara...

- Rita! - Gritou-lhe, querendo que ela a ouvisse do quarto, sem ter que ir até ela.

- Diz, amor... - Perguntou-lhe, já chegando à sua beira e espreitando para dentro da casa de banho, a qual Ana saiu momentos depois.

- Vamos sair! Dançar um bocadinho... - Pedia, querendo sair daquele desconforto que se apontava dentro de si.

- Mas... Não vais trabalhar amanhã de manhã? - Perguntou ela, estranhando o seu a vontade com as horas a que iria chegar, tendo trabalho amanhã.

- Não. Só tenho que ir lá de tarde... - Proclamou, não a olhando directamente, deixando-se atenta a uma das novelas que passavam na TV, desconhecendo, na mesma, o desenrolar de toda aquela história fictícia.

- Isso é que é boa vida...

- Não lhe chamaria «boa vida»... - Contrariou, deixando descair a sua tristeza perante aquele assunto, ao qual passara a tarde a pensar.

- Então, que se passou?

- Nada. Simplesmente, fui despedida...
 

Queria pedir desculpas pela qualidade do capítulo, e pela sua demora, mas para além de andar sem tempo, ando sem inspiração :/ Espero que compreendam, beijinhos.
Ana Sousa

sábado, 5 de novembro de 2011

Aviso :/


Olá, minhas queridas.
Queria pedir-vos imensas desculpas por estar à tanto tempo sem postar um capítulo, mas agora com a escola torna-se mais difícil uma vez que estou na recta final do secundário, e a execução e repetição de exames vão exigir muito do meu tempo.
Disse que iria postar esta semana mas temo não conseguir, uma vez que ainda só vou a meio do capítulo. Assim que postar este, não sei quando irei voltar a  postar, mas farei os possíveis para que consiga arranjar um tempinho para escrever. Afinal, só tenho que agradecer a vocês, queridas leitoras, pelo apoio constante que me têm dado com os vossos comentários.

Espero que não desistam de vir cá, porque eu também não o irei fazer. Beijinho, 
Ana Sousa

domingo, 9 de outubro de 2011

36º Capítulo - Calha assim (Parte I)



Era mágico e estrondosamente alucinante a forma como a felicidade lhe encaixava perfeitamente em cada pedaço de si e, ao som de uma música cujo timbre de voz devidamente alegre pelo qual era interpretada, a fazia esvoaçar tal e qual a sua saia, num rodopio e num vai-e-vem divertidíssimo nos braços de David, com um sorriso brilhantemente encantador. Estava a ser sem dúvida um dia feliz, ao lado de muitos daqueles que em pouco tempo se haviam tornado grandes amigos.
Distribuídos pelo espaço existente, todos dançavam alegremente e, até aqueles mais pé de chumbo, não se inibiram de se divertirem ao som do nosso DJ improvisado, Javi, e onde se fazia acompanhar por Rúben, tentado mostrar um pouco dos seus dotes para a música.
Ana, que até então permanecia nos braços de David, arrecadou os braços do pai, onde havia permanecido Rita, bem divertida com o seu “tio” e que acabou por ir ao encontro de David para mais uma dança.

- Ouvi dizé que cê anda enrolada com a Ná… - Proferia David com um sorriso travesso dirigido a Rita, onde a permitiu perceber que tal já saberia do sucedido no cinema. – Vai, me conta caraca! Se anda enrolada com a minha miúda? – Falava David entre risos, depois de Rita lhe ter presenciado com uma bela gargalhada.

- Desculpa David, aconteceu… - Tentava manter uma postura séria, embora estivesse a dançar feita uma maluca, como toda a gente. – É difícil quando descobrimos o que somos! – Fez-lhe um ar suplicante. – Não te zangues David.

- Cês vivem juntas ‘tá bom? Como quer que não zangue com você? Sei lá que anda fazendo com ela à noite! – Estava difícil falar sem se rirem.

- Não te vou falar da minha vida sexual! – Depois de ter proferido tal coisa, David tentou fazer uma cara de zangado, mas acabaram os dois a rir que nem dois parvos.

- Olá amor…, outra vez. – Disse-lhe Ana, ao voltar para os braços de David.

- Olá meu amô! – Retribuiu-lhe o sorriso à qual teimava em não tirar do rosto e ainda lhe beijou a bochecha carinhosamente.


***

- Hey manz, cê viu a Ana? – Perguntava David a Rúben, sempre atento e preocupado, abarcando com o olhar toda a periferia da sala - devidamente decorada – acabando por conferir a sua ausência naquele local.

- Não, não vi… - Respondeu, saltando também a sala com o olhar e, para desgosto de David, dando-lhe resposta negativa.

- Vou ver dela então. Até já manz! – Presenciou-lhe com um sorriso à qual o seu tão confidente amigo sabia decifrar, convergindo até ao piso superior em passadas divertidas e, num acto de pura normalidade, foi contando as escadas circulares que pisava.

A sala estava vazia e em silêncio, onde se podia ouvir apenas o zumbido imparável da música vinda de baixo e saborear o cheiro a alfazema oriunda do ambientador que Rúben costumava usar. Aquele cheiro fazia-lhe recordar todos os momentos vividos com Rúben ali, todas as suas brincadeiras e divertimentos que ambos presenciaram como um bom par de melhores amigos. Apenas isso fazia com que David soltasse um sorriso.

Com os seus caracóis saltitantes e devidamente arranjados, procurou-a nas diversas partes da casa onde ela poderia estar, mas não a encontrou. Foi só ao cruzar a porta envidraçada da sala que a encontrou, sentada num dos bancos de jardim com o joelhos junto ao peito, saboreando um apetitoso chupa chups de morango, que lhe conferia um ar de menina, escondendo os anos a mais que aparentava ter.

- Cê quer partilhar um bocadinho com este garoto guloso? – Brincou, sentando-se ao seu lado e brindando-lhe com um sorriso amigável.

- É de morango, gostas? – Perguntou-lhe agitando levemente o chupa no ar, de forma a ele o ver.

- Uhh, hum… - Agitou simplesmente em forma positiva com a cabeça e fazendo o som típico de acompanhamento.

Ana juntou-se mais a ele esticando-lhe o chupa e, quando David se preparava para o meter à boca, ela puxa-o e beija-o.

- É bom? – Inquiriu a rir-se perante a pequena brincadeira que levou os dois a colocar um sorriso bonito por algo tão inesperado da parte de David.

- Melhor do que eu pensava! – Falava David, amarrando-lhe as costas e deixando-a encostada ao seu tronco e de costas para ele.

- Toma amor! – Ana passou-lhe o chupa, que à momentos atrás tirara da cestinha da mesa.

- Que cê veio fazer cá p’ra fora amô? ‘Tá todo mundo lá dentro.

- Vim só apanhar ar amor… - Desejava não deixar cair o seu lado mais fraco, que a levava a querer isolar-se de tudo, para que tudo passasse mais depressa.

Embora tivesse a mais perfeita noção que nem sempre era assim, que nem tudo corre da mesma forma que um relógio de parede, algo mais forte do que o saber, a levava a fazer o mesmo, vezes e vezes sem conta, esperando que, por um simples momento, se conseguisse proteger e fortalecer para mais um dia, mais uns tempos.

- Cê me quer enganá? – Interrogava David numa pergunta retórica, conhecendo já tão bem a sua namorada. – Vá, me conta. O que ‘tá preocupando esse coraçãozinho?

- Já me conheces tão bem, né? – David afirmou positivamente com a cabeça, esclarecendo-a do que lá no fundo já sabia. Não adiantava fingir. – Não é preocupação… é saudade.

- Saudade? Da mamãe amor? – David apertava-a ainda mais para junto de si, assim que percebeu o que seria a resposta, para lhe dar conforto.

- Sim... – Tentava conter nas palavras, a dor pontiaguda que lhe pendia no coração ao recordar todo os momentos com a mãe, deixando sempre um enorme rasto de saudade. – Saudade da mamãe…

- Oh meu anjo, cê tem que ser muito forte! Não pode baixar a cabeça… - David tentava apoia-la, acariciando-lhe o rosto, e rezando a si mesmo para que ela não deixasse descair uma lágrima, que lhe destroçaria o coração. – Passou pouco tempo amô, normal que não seja fácil p’ra você. Mas eu, a Tááh, o Rúben, o Paulo, vamô ‘tar cá p’ra a apoiar!

- Eu sei… eu sei. – Respirou fundo para acalmar o seu doloroso coração, e conter as lágrimas que já sentia à superfície dos seus olhos esverdeados que tentavam a todo o custo, serem libertadas para a sua face, naquele momento ebúrnea, devido à luz da lua. – Mas é tão difícil sem ela…

- Tenho certeza que ela está orgulhosa de você, muito!

- Sabes, ela iria ficar radiante se soubesse que tenho o homem que amo comigo! – Ana largou um sorriso sincero, ao recordar a maneira de como a sua mãe ficava entusiasmada sempre que Ana, por algum motivo, se encontrava mais emotiva em relação a algum rapaz. – A viver uma realidade tão bonita!

- Ela sabe meu bem… ela sabe! – David soltara também um sorriso satisfatório, vendo que Ana se encontrava mais calma. – Ela está sempre consigo!

- Amor, afinal como é que o meu pai soube? – Inquiriu ela, num tom de voz curioso, perante o relacionamento que o pai denunciara saber e tentando largar aquele pensamento que tanto lhe corroía o coração.

- Não sei… Durante a tarde ele foi desconfiando, por eu levar-te ao jantar, sozinhos… - Explicava David, focado no caracol que tentava enrolar do cabelo dela. – Acho que me foi topando. Ele estava à espera que eu confirma-se…

- Quando estive a dançar com ele, disse-me que estava feliz por nós, mas para ter cuidado, devido à tua profissão. – Ana olhara-o. – Sinceramente, nunca pensei que ele aceitasse tão bem a nossa relação.

- Ele só qué o seu bem! – David beija-lhe a bochecha. – Meus pais vão ficar super contentes quando souberem que é você!

- Mas eles sabem que estás a namorar?

- Sou transparente p’ra eles meu bem… Eles vêm como tenho andado nas nuvens.

- E tu queres que eles saibam já que sou eu? – Perguntou com receio, de que eles não gostassem muito da ideia.

- Oh amô, eu sei que é cedo, mas você já os conhece. Eles gostam de você, não vejo motivo para adiar mais…

- Oh David, eles simpatizaram comigo, mas não quer dizer que gostem de me ver como tua namorada…

- Gata, se eu estou feliz, eles também vão estar! – David virara-a para ele, e beijou-lhe levemente nos lábios. – Eles vão gostar de saber, sério!

- Quando é que voltas a estar com eles, amor? – Interrogava Ana, sabendo que apenas falava com os pais por telemóvel e webcam.

- Acho que só nas férias de verão… - Respondeu David, com uma certa nostalgia na voz, desejando poder vê-los mais cedo.

- Vai passar rápido meu amor! – Ana incentivava-o. – Quando deres por ela já estás dentro de um avião prestes a chegar à tua terra natal!

- Espero que sim! – Beijou-lhe. – Vem para dentro amô, ‘tá ficando frio e o pessoal começa a estranhar.

- Sim, é melhor irmos! Mas dá-me um beijinho primeiro… - Molengava Ana, desejando por mais um beijo de David.

- Isso nem se pede!

- Ainda bem! – Sorriram e encaminharam-se para dentro, abraçados um no outro, prestes a divertirem-se com os restantes amigos.

****

- Já? – Perguntava Rúben, assim que a Neia mencionava ter que ir embora, depois de umas longas horas de riso e dança.

- Sim Rúben, amanhã é segunda e além de ter que ir trabalhar, vocês também têm treino logo de manhã! – Justificava-se, tentando manter-se de pé, sem se queixar, naqueles altíssimos saltos altos que havia comprado.

- Agora que a festa estava a aquecer! – Sorria Rúben, a olhar para a bebida que continha na mão.

- Pois, eu sei disso... – Dizia Tááh. – Olha as responsabilidades menino! – Deu-lhe um calduço e para evitar que reclamasse beijou-o calmamente.


Recostada num dos sofás da sala de bilhar, e já depois de quase todos irem embora, permanecia Ana, agarrada ao seu novo gatinho para o qual ainda não arranjara nome, acariciando-lhe na barriguinha peluda e cor de mel, mergulhada nos seus mais profundos e mais sentidos sentimentos. A saudade, a felicidade, o amor… tudo misturado como se uma tigela de bolo se tratasse, onde, depois de junto, facultava um novo e indecifrável sabor, irretratável, onde esperávamos pela pessoa que o conseguisse desvendar e assim conseguir torna-lo numa coisa minimamente boa.

- Acho que te vou chamar Ozzie… - Falava para ele, enquanto tentava dar um nome ao gato. – Hum, que achas gatinho lindo? – Coçava-lhe a cabeça, e este miou-lhe.

- Parece-me que ele gostou! – Falou Rita, assim que se sentou junto da sua melhor amiga, após uns longos minutos a ver os rapazes jogarem a sua última partida de bilhar.

- Acho que sim! – Sorriram as duas, enquanto Rita pegava nele. – Sabes, não me lembro de te ver tão feliz ao pé de alguém como quando estás com ele…

- Com o gato? – Riu-se sabendo que estava a interpretar mal aquilo que a sua amiga dissera.

- Não, sua trenga. Com o David! – Riu-se Tááh, ao pensar no quanto desatenta conseguia estar a sua melhor amiga, que tantas vezes a ajudou e a tornou feliz, nem que fosse uns míseros segundos, fazendo-a sorrir e sentir-se viva novamente. Uma amiga que valorizava, que venerava.

- É… - Sorriu pensativa, mas rapidamente aquele cinzelo sorriso foi substituído por um rosto duro, onde presenciava o medo. – Tenho medo que tanta felicidade acabe rápido. Tenho medo que aconteça algo… Já estou tão apegada a ele, meu Deus!

- Não penses assim, amor! Estais tãoooo bem! – Dizia a amiga, que testemunhava a felicidade em que os dois se encontravam, e o apego anormal que ambos exibiam ter, nuns simples 4 meses de convivência e tão pouco tempo de namoro. – Pareceis um só!

- Ai amiga, estou a viver aquilo que parece um sonho! – Babava-se, ao recordar o amor incondicional que criou por David, e que a cada dia que passava se fortalecia mais. – Um sonho!

- Vez Ozzie, os olhos dela estão a brilhar! – Brincava com o gato, que a partir de agora ia habitar no mesmo espaço que elas. – Temos uma amiga apaixonada!

- Quem é que está apaixonada? – Perguntava Rúben, assim que se acercou do sofá com David, para logo de seguida roubarem espaço entre elas.

- Ué, acha que é preciso perguntar!? Aposto que é a Ana por mim! – Brincava David, com o seu já tão característico sorriso, enquanto batalhava por um pequeno bolo de chocolate com Rúben.

- Deves-te achar mano! Claro que era a Tááh por mim! – Reclamava Rúben que, acercando o bolo, aproveitou a distracção do amigo para lhe dar uma valente trinca. – Não era amor?

- Vocês não se cansam? – Perguntava Ana, tirando o bolo da mão de Rúben, para logo a seguir o trincar. – Deviam entrar em dieta! Isto de comer bolos não dá com nada! – Rita ria-se da cara com que os dois ficaram, assim que viram o bolo desaparecer da sua vista, em algumas dentadas na boca de Ana.

- Já fostes! – Dizia o Rúben, a pensar no bolo.

- Já pôs nome no gatjinho? – David beijara-lhe a bochecha vagarosamente, como fazia milhentas vezes.

- Já. Vai se chamar Ozzie. – Dizia ela com um sorriso na cara, adorando o seu novo animal de estimação.

- Eu gosto. – David mostrava-se de acordo com a escolha do nome, já Rúben, esse tinha que dar o ar da sua graça.

- Oh Ana, eu sei que ele tem riscas, mas esse nome faz-me lembrar ET’s! – Gozava. – O-zz-iiiiie está a che-ga-reee. Cuida-doo com as ri-ssss-cas. – Imitava, um tanto robô, um tanto ET.

- És mesmo parvo pá!

- Os ET’sssss são ass-iiiim… - Continuava, com uma cara completamente estúpida, que mesmo sem piada, poderia fazer qualquer um rir.

- Acho que estás a precisar de óleo amor! – Ria-se Rita, com as parvoíces do seu namorado.

- Anda untar então amor. Anda! – Pegava ele, querendo levar por caminhos mais perversos.

- Uii, David vamos embora, que senão quem fica a colar somos nós.

- É manz, larga essa!

- Mas falando a sério, está tarde… Amanhã vocês têm treino e nós trabalho. É melhor irmos andando. – Dizia Ana, a olhar para o relógio que trazia ao pulso.

- Têm a certeza que não querem ficar?

- Não vale a pena Rúben, senão amanhã andávamos numa correria. – Justificava-se Ana, querendo apenas deitar-se na sua cama e dormir umas valentes horas de sono. – Já que o meu pai já se foi deitar, amanhã passo aqui a busca-lo, ok?

- Por mim, quando quiseres.


****

Depois de uma noite calorosa, o sol havia sido substituído por nuvens cinzentas que ameaçavam chuva, mas que até então se haviam contido. Depois do seu banho matinal e de vestir uma roupa mais quentinha, aquele que prometia ser um dia mais refrescado, deixou que o seu coração aquecesse num ápice assim que leu a mensagem de David.

“Oh sua dorminhocaa, toca a acordar que aqui o seu namoradão, está aí dentro de 30 min p’ra levá você no trabalho. Até já amô da minha vida ♥”

“Ahah! Meu namoradão está atrasado, porque eu já estou acordada e vestidinha! Vou tomar o pequeno-almoço amor, até já grandalhão.
Amo-te ♥”

“Baril, é da maneira que não tenho que esperá pela menina do sapato perdido! ;D Até já gata.   Eu também amo você!”


Se Ana não estivesse a mostrar os dentes todos, eu diria certamente que quase, tamanho era o seu sorriso. Assim que alcançou o armário da cozinha, vislumbrou os tão deliciosos croissants que lhe eram tão familiares em todas as manhãs, e juntando-lhe uma fatia de fiambre, levou-o a boca com uma vontade enorme de comer.
O jarro que permanecia sempre no centro da mesa acastanhada da cozinha, encontrava-se coberto de estomas brancos e margaridas amarelas, fazendo uma combinação perfeita com a toalha definidamente bordada a amarelo. Obra de Rita.

Depois de ter ingerido o seu último gole no copo de sumo de laranja natural, foi ter com Rita, para que esta acordasse.

- Toca a acordar preguiçosa! – Balançava a amiga, logo após a ter saltado para cima da cama.

- Aii não! Deixa-me dormir! – Pedinchava ela, puxando o lençol azul que Ana teimava em tirar, descobrindo o seu corpo.

- A dormir não se faz nada! Anda lá pá. – Arrancava-a da cama. – Vai tomar um banho!

- Que chata meu! – Reclamava, assim que se mostrou derrotada, sentido o frio da madeira envernizada do chão. – Vais paga-las!

- Sim sim, mais logo querida… Mais logo! – Brincou, saindo em direcção ao sofá, onde o seu novo animal de estimação se deixara adormecer na noite anterior.

- Bom dia Ozzie! – Saudava Ana, fazendo-lhe uma festinha na cabeça. – Pois é pequenino, estás com fominha não é? Vamos lá ver o que arranjo para ti! – Pensava ela, constatando que não teve oportunidade de comprar ração para ele na noite anterior. – Eu prometo que quando vier será melhor!


Logo que David chegou, Ana desceu do 3ºb para ir ao seu encontro, onde no elevador ainda se cruzou com um dos condóminos, travando uma conversa de circunstância e educação até à porta de saída, que acabara por guia-los por caminhos diferentes.

- Bom dia grandalhão!

- Bom dia bomboca!

- Estás a chamar-me gorda? – Interrogou em tom irónico, fazendo cara de má enquanto entrava no carro para aí o poder beijar.

- Não, lhe estava chamando de docinha, mas se cê prefere assim, que posso eu fazé né?

- Né! – Roubava-lhe mais um beijo, que já lhe fazia tanta falta, depois de algumas horas longe dele. – Hoje vais me levar, hum?

- É! Cê tem um namorado todo amorzão! Não se queixa viu?

- Eu? Queixar-me? É que nem pensar nisso, chiça! – Meteu o cinto e ficou vendo-o conduzir. – Amo-te.

- Eu também amô!

- A que horas sais do treino?

- Lá para as onze e trinta, já que eu te trago e cê não tem carro, eu passo p’ra vir buscar você!

- Não Davi’, não é necessário. Eu venho de Táxi. Também não é assim muito longe!

- Não quero discussão. Venho e mai nada! – Garantia David, sem deixar margem de manobra a Ana.

- Aii, está bem chatinho!


Ana entrou dentro da instituição e desde aí não teve tempo para pensar em muitas coisas a não ser crianças. Umas alegres correndo pelo corredor na esperança de chegar primeiro ao comando da televisão, outras mais nostálgicas, esperando por uma notícia de alguém querido. Tudo a fazia pensar no dia em que, se Deus quisesse, iria realizar este desejo de ser mãe, e acompanhar o desenvolvimento e amadurecimento dos seus filhos. Ajuda-los a procurar a felicidade e diminuir-lhes a tristeza, junto de David, é verdade. Mesmo que isso um dia possa mudar, mesmo que este não venha a ser o sucedido, este era o seu desejo, agora.

Depois de se despedir dos meninos para ir almoçar, ainda passou pelo seu chefe que andava pelos corredores atrapalhado com um monte de folhas, que ao tentar coordenar umas, deixava ficar outras para trás.

- Deixe que eu ajudo com isso! – Oferecia-se para ajudar a levar aquela amalgama de papeis, até ao escritório.

- Obrigado Ana! Isto de não ter tudo reunido em capas é tramado. – Justificava-se, ao mesmo tempo que alinhava a camisa azul clara.

- Tem que tratar disso! Senão qualquer dia não sabe de nada!

- Pois, estes papéis são para arquivar, ia agora fazer isso antes de ir almoçar!

- Eu ia agora almoçar, se me der licença…

- Vai, vai! Não te prendas por mim! – Ia soltando o seu chefe, quase que sem olhar para ela, concentrado no monte de folhas que pousara na secretária.

- Obrigado, até logo!

- Bom almoço! – Desejava-lhe, abarcando com o olhar a periferia onde ela se encontrava, prestes a sair. Ana apenas lhe sorriu e saiu em direcção ao exterior, desejando não ter feito esperar David.

Assim que sentiu a aragem típica de inverno bater-lhe contra as faces um pouco rosadas, estremeceu.
Pensou ver o audi Q7 de David, mas era apenas um carro branco ao cruzar da esquina, parecido por sinal. Acomodou-se num dos bancos de madeira polida, ainda pertencentes à associação, esperando por David.

Os minutos passavam, uns largos minutos até, e nada de David. Ana começava a ficar preocupada ao constatar que nem uma mensagem de David tinha. Ligou-lhe vezes à qual perdeu a conta, e quando esta desistiu de tentar e preparava para lhe mandar uma mensagem e encaminhar-se ao café mais próximo para uma refeição simples, o telemóvel de Ana toca com a chamada de David.

- Estou? David, então? – Perguntava Ana, um tanto preocupada, um tanto chateada, por pensar que este se havia esquecido dela.

- Desculpa não pegá você para almoçá.

- E porque não o fizeste? – Pedia uma desculpa plausível para a ter deixado plantada e quase sem tempo para fazer uma refeição decente.

- Estou no hospital…


Obrigada a todas por terem esperado por mais um capítulo desta história. Espero que esteja do vosso agrado e assim que poder postarei a segunda parte do capítulo. Deixem os vossos comentários, incentivam-me imenso!
Beijinhos, Ana Sousa

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Olá gente bonita! :D
Primeiro de tudo quero pedir imensas desculpa por não estar a postar regularmente, mas agora com as aulas torna-se mais dificil.
Sei que já passou umas semaninhas sem um novo capitulo mas estou a tratar dele, e amanhã ou sábado estará pronto! Assim que poder venho cá postar!
Agradeço a todas que não desistiram de vir cá ao meu cantinho, 
E já agora pedia aos anónimos para se identificarem, só para ter uma noção com quem "falo".
Beijinhos, minhas queridas.
Ana Sousa.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

35º Capítulo - Aniversário (Parte III)




E ali estava ela, embrenhada numa felicidade saltitante e convicta, que permanecia presa ao seu coração, para que pudesse consolar David com mais um sorriso lindo e sincero. E eles, vagueando num beijo profundamente apaixonado, deixavam-se consumir pelo conflito entre a vontade e necessidade de se amarem.
David levou a sua mão quente para baixo da saia de Ana, acariciando-lhe as coxas de forma suave e vagarosa. Queria saborear aquele momento o mais possível, assim como ela estava e queria ceder às tentações.
Ao contrário do mar, os seus corações agitavam-se a um compasso estonteante, provocando neles uma respiração demasiado acelerada. Quando estavam a meio de um intenso e saboroso beijo, entrelaçados pelas mãos um do outro e completamente embrenhados na mais sincera paixão, o telemóvel de David faz com que estes despertassem do transe e cair na realidade de onde se encontravam.

- Desculpe… - Desculpava-se David, numa voz que lhe saíra demasiado entrecortada, acabando por atender a chamada de Rúben. – Alô manz?

- Olá mano. Está tudo bem aí?

- Está sim, e aí?

- Está tudo em ordem… Quando quiseres, podes vir…

- Ah… ‘Tá bom. Eu passo já aí então… - Proferia David, tentando não ter ar de quem esconde alguma coisa. – ‘Té já.

- Até já mano.


- Era o Rúben amor? Está tudo bem?

- Era sim, qué que passe lá p’ra buscar uma coisa… cê se importa? – Explicava ele, ao mesmo tempo que estendia as mãos para a levar do chão.

- Não, claro que não! – Sorriu-lhe, olhando-o nos olhos.

- Mas primeiro quero meu beijo! – Pedi-a ele, soltando um sorriso perverso.

- Hum, huum… - Beijou-o. – Amor, acho que temos que ter mais cuidado, estamos num sítio público…

- Pois. Mas me esqueço sempre. Posha! É tão difícil resistir a você. – Fazia beicinho.

- Não digas asneiras! – Sorriu envergonhada. – Vamos? Não quero que o senhor Amorim me culpe de o ter atrasado.

- Sim, vamô… - Beijou-lhe a bochecha e seguiu caminho a seu lado até ao carro.


***

- Cê ‘tá falando sério? – David gargalhava bem alto enquanto estacionava o carro.

- Estou David! Foi o que me veio à cabeça para o despachar. Vá não gozes… - Ana fazia esforço para não se rir também, após ter contado a David o que acontecera no cinema de manhã, com o tal rapaz à qual não chegou a conhecer o nome.

- Cê acha que tenho que desconfiar de cês as duas?

- David! – Riram juntos.

- Que foi? Eu não sei não, vocês moram juntas… Caraca, estou feito! – Ria-se.

- Pronto, dá-me um beijo, já!

David não negara, embora soubesse que era para ele parar de gozar do sucedido. Ela beijou-o com todo o carinho, tentando acalmar os dois corações que tilintavam pelo amor um do outro numa sinfonia perfeita. Estavam ambos bem, ambos felizes, e isso transbordava nitidamente em cada traço dos seus sorrisos, em cada traço dos seus olhos.
É o amor… o amor que muita das vezes nos traz desgostos, feridas, que mesmo sem querermos ficam a habitar o nosso coração permanentemente até que algum ser, capaz de despoletar a atenção de forma diferente do nosso cinzelo coração, nos alivia a dor da ranhura ligeiramente entreaberta que tanto tentamos combater e com um simples sussurrar de sentimentos, endurece e torna a casca segura e forte, pronta a fechar e a regenerar-se. Isso é bom, quando, por sentimentos mais fortes, conseguimos fecha-la. Porém, nem sempre nos traz dissabores, acabando por nos dar momentos de pura felicidade e paixão que nos torna cúmplices do nosso próprio sorriso. Isso sim, quando é verdadeiro, tornasse num dos sentimentos mais bonitos e inexplicáveis que se podem sentir. Aquele onde só com a mais subtil humildade, consegue tocar no coração de forma diferente. E eles, estavam a sentir isso. Plenamente.

- Posha, Ná! Meu coração tá aos sautjinhos por você! – Ana sorri ao ver que não foi uma piada sem sentido e leva a sua mão até ao peito de David.

- Promete que ele não foge! Promete que eu vou continuar a ser a dona do teu coração, assim como tu serás sempre o dono do meu! – Ana estava emocionada e os olhos de David raiavam.

- Prometo te prender aqui para sempre, como uma princesa na masmorra.

Ana ri-se. – Que parvinho. Desde que me vás visitar eu fico feliz! – Riram os dois e David beija-a demoradamente. 

- Vamô princesa?

- Vamô príncipe! – Sorriu de orelha a orelha.

David tocou três vezes na campainha, para que Rúben soubesse que eram eles. E o caminho desde o jardim à porta principal, foi alimentado por repenicados beijos que David impunha na bochecha esquerda de Ana fazendo-a sorrir. Rúben veio abrir a porta mesmo antes de estes a terem alcançado acabando por libertar um sorriso por presenciar a felicidade dos seus dois grandes amigos. Rúben cumprimenta ambos com um abraço caloroso. 

- Então feio, ‘tás bom?

- Estou desdentada! E tu?

- Poderia estar melhor? – Olhou para David e sorriram.

- Podias e vais ‘tar…

- Ah?

- Entra garota! – Incentivou.

- ‘Tá bom seu babaca! – Ana falava para David que lhe deu uma palmada no Rabo.

- Ana, importas-te de ir buscar uma saca da Rita lá a baixo à sala de bilhar?

- Já vou feio! – Beijou David.

- Desdentada! – Ana antes de descer as escadas mostrou os dentes a Rúben e riram-se.

- Vamô atrás dela. – Sussurrou David.

As luzes estavam apagadas e, ao fundo das escadas em círculo, Ana esticou a mão na parede para chegar ao interruptor acabando por se surpreender. Não havia luz lá em baixo. Ela reparou que eles vinham atrás e gozou.

- Oh Rúben, agora só pagas metade da conta da luz é?

- É… Eu agora ando a velas, olha ali!

Vira várias luzinhas a acenderem num ponto específico. As pequenas luzes que até então eram míseros pontos, alastraram-se em pontos mais intensos de luz que permitiu a Ana ver para além da escuridão.

- Parabéééns! – Disseram todos em coro, assim que alguém ligou a luz.

- Eu mato-vos… - Pronunciou baixinho com um sorriso alargado, e com o olhar estagnado para as pessoas que estavam presentes.

Atrás de uma mesa coberta de doçaria, estavam as pessoas pelas quais Ana mais convivia. Rita, Andreia, Fábio, Paulo que lhe sorria acompanhado por Joana, bem… grande parte do plantel do Benfica e… aquele era o seu pai? Ana parou de percorrer com o olhar as pessoas que lá estavam e apreçando o passo chegou ao pé do pai dando-lhe um abraço ternamente.

- Está cá! – Ana sorria apertando seu pai. – Obrigada. – Sussurrou-lhe.

- Não é a mim que tens que agradecer… - Ele também sussurrou. – É a ele… - O seu pai piscou o olho a David e Rúben. Não foi preciso mencionar nomes para que ela soubesse de quem estava a falar. Mesmo assim, ficando incomodada, desencostou-se do pai.

- Obrigada pessoal! – Dirigiu-se a todos com um sorriso longo.

Depois de lhe terem dado os parabéns e presenteá-la com beijinhos e abraços, Fábio intrometesse na conversa que esta mantinha com Rita. Onde a ameaçava e lhe agradecia ao mesmo tempo por ter dado com a língua nos dentes.

- Eu sei que ainda tens que abrir as prendas e tal só que podemos passar essa parte por agora e irmos directos à parte em que distribuis o bolo? – Todos se riem.

- Agora andas a tirar ali o lugar ao feio?

- Hey, não me difames! O Fábio tem toda a razão! Devias dar-lhe ouvidos…

- Sim Rúben sim, se eu não te conhecesse… Vá, mas vamos a isso!

David conversava ora com Rúben, ora com o pai de Ana, mas mantinha-se atento a ela, sempre a ela, sorrindo-lhe honestamente sempre que esta o olhava agradecendo com o olhar. Sempre que esta lhe expressava um “amo-te” gesticulando os lábios.

- Sou o único aqui a não saber David?

- Desculpe, não ouvi. – David estava desatento da conversa, centrando-se na única pessoa que lhe interessava realmente olhar agora.

- Se sou o único daqui que teoricamente não sabe de vocês?

- Não ‘tou entendendo onde você quer chegar…

- Tu e a minha filha…

David não se engasgou com o bolo que estava a beliscar, mas este ficou bem preso no fundo da garganta, tentando com algum custo que este fosse para baixo sem ser preciso ir buscar alguma bebida. Não sabia se havia de o olhar, muito menos sabia o que devia dizer.

- Eu nã…

- Oh, vala David. Não vais dizer que não sabes do que estou a falar… toda a gente repara que vocês se gostam. – Ele ficou surpreendido e Rúben preparava-se para se aproximar, numa tentativa incerta de tentar ajudar o amigo a sair dali. Mas David ganhou coragem.

- Não… Eu amo ela. – Respirou fundo quando Sr. José lhe sorriu. – E sim, você era o único que não sabia. Pelo menos achávamos que não.

- Então vai lá ter com ela, faz o que estás doido para fazer. – David olhou-o. – Oh rapaz, eu já tive a tua idade, sei o que é isso. – Sorriu para David e este agradeceu-lhe e seguiu até Ana.

Esta estava de costas mas assim que sentiu a sua presença atrás dela virou-se. David não hesitou e beijou-a carinhosamente nos lábios.

- Davi’, o meu pai… - Ela olhara para o pai, e este assentiu-lhe com a cabeça e sorriu. Ela abraça David. – Seu pai já sabia.

- Mas como…

- Seu pai é esperto Ná. Mas a verdade é que já ‘tava morrendo p’ra beijá você, credo! Mesmo sendo uma desdentada me deixa assim!

- És tão simpático amor!

- Sou né!?

-És, és. Mas os meus dentes são lindos hein?

- Tonta! Vamô abrir suas prendas!

- Ai David, aqui não, mas quando estivermos os quatro sozinhos, eu vou vos bater! E tu, foste tratar de papelada, hum? – David fez beicinho.

- Não bate não!

- Bato, bato!

- Quem manda!?

- Eu! – Dizia ela “fazendo peito”.

- Oh, cê assim me ganha!

- Parvo!

- Vá, vamos! – Beijou-lhe a testa e dando-lhe a mão levou-a até a mesa.

-Agora já podem, já comi bolo! – Fábio brincou enquanto trincava uma bolacha de chocolate.

- Podes abrir já a minha. – Andreia estendeu-lhe uma caixa.



- Obrigado! É lindo. – Abraçou Andreia e Fábio.

- Esta diz “Tááh e Rúben”? Até tenho medo, só pelo tamanho da caixa… - Rita sorriu. – É lindo, lindo, lind… só podia! És mesmo parva! Ahah – Disse assim que viu a lingerie cor-de-rosa que esta lhe avia posto junto com o vestido.


- Que é? Tudo é necessário! – Gargalharam.

Alguns presentes se seguiram mas Rúben chamou por ela, mais à parte.

- Toma!

- Mas tu já... – Interrompeu-a.

- Abre e cala-te!

- Ai! Que mau! – Sorriu-lhe.

- É linda Rúben! Olha só… - Ana observava o pormenor. – Oh Rúben…

- Ana… és a namorada do meu melhor amigo, és a melhor amiga da mulher que amo e que não me esqueço que se hoje estou com ela devo parte disso a ti! Mas também somos amigos, e tu tornaste-te uma amiga muito importante para mim, mesmo. Por isso mandei gravar a inicial dos nossos nomes, dos quatro. – Ana constatou mesmo que continha lá as iniciais deles. A R D R. – Vocês os três são a grande parte da minha alegria!


 - Anda cá! – Ana abraçou-o. – Obrigado! És um feio muito lindo. – Riram. – Nunca me vou esquecer Rúben, nunca.

- Tenho um namorado mesmo fofinho não tenho?!

- Oh pá, vocês fizeram isto tudo às minhas escondidas. Devia bater-vos…, mas não consigo. – Sorriu.

O Pai de Ana dirige-se a ela com uma coisa na mão. – Oh pai, não era preciso…

- Era sim. Abre… - Ana desembrulhava a caixa. – Eram esses não eram?



- Eram sim… Obrigado! – Deu-lhe um beijinho na bochecha.

- Falto eu… - David abraçava-a por trás, encaixando o seu queixo no ombro dela. Qué vê?

- Quero pois!

- Então espere um minutinho! Eu já volto.

David veio com uma cesta de palha, e Ana ficou sem perceber nada.

- Espreite…

- Ai não! David… é um gatinho pequenino? Aii que lindo! – Acariciava-lhe a cabeça. – Quem te disse que eu adorava…? Oh pois, aquela boca de trapos…

- Pegue nele…



- Vem cá pequenino… És bonito tu! Mas o que é que tens p’raqui na patinha, hein? – David sorri. – David? É lindo! Mesmo… Obrigada por tudo amor! – Beijou-lhe e sussurrou ao seu ouvido. – Eu também quero que seja infinito…

 
Ele sorriu. - Posso por em você?


- Podes…

Ana desviou o cabelo com uma mão, e segurou o gato na outra, enquanto David lhe colocava o fio. Assim que o fez, deu-lhe um beijo no pescoço e de seguida na bochecha.

- Amo você.

- Eu também Davi’…

David beijou-a, tal e qual como desejava. Um beijo apaixonado e intenso à qual Ana não se inibiu. Já todos naquela sala sabiam e por isso era escusado ele não se render aos encantos da sua amada, era escusado ele permanecer quieto sem mostrar o quanto a amava. O amor que sentia por ela aumentava em cada dia, em cada noite, e não lhe dizer isso tornava-se num sufoco à qual lhe custava aguentar. Querendo ou não, já se tornara uma necessidade…

Espero que gostem... Deixem a vossa opinião. É muito importante para mim!
Beijinho, Ana Sousa